Como lidar com a morte? Quatro dicas para ajudar os nossos filhos
Há poucos meses atrás, uma amiga perdeu um familiar muito próximo e desabafava comigo sobre a dificuldade que estava a ter em ajudar as suas filhas pequenas a lidar com a situação. Era a primeira vez que as meninas lidavam com a morte, ambas choravam muito e perguntavam o porquê daquilo ter acontecido. Percebi então que a minha amiga sentia-se um pouco perdida, se é que podemos chamar assim. Não é, de todo, minha intenção ser “mórbida” aqui na minha participação pelo blog, mas a verdade é que esta conversa levou-me a refletir sobre o dilema que muitos pais passam perante estas situações e as dificuldades que enfrentam com os filhos. Eu própria enchi-me de medos e dúvidas quando passei por isso com a minha filha! Há poucas horas, cruzei-me com um post num grupo de Facebook de uma mamã a perguntar como se lida com as perguntas dos filhos sobre a morte? Decidi então, reunir aqui algumas dicas/sugestões, segundo a minha experiência e o que fui aprendendo com a minha filha (sim, porque ela me ensinou bastante neste processo!), com a psicóloga dela e também com amigas da área de psicologia, com quem sempre fui falando.
1. Ser sempre verdadeira(o) e honesta(o)! Este ponto é fulcral! Mentir não é uma boa opção! Mais cedo ou mais tarde eles vão saber… e perceber que mentimos. Não há nada mais importante que sermos honestos e verdadeiros com os nossos filhos. Nós somos o seu porto seguro e se lhes mentirmos ou ocultarmos algo, isso quebrará os laços de confiança que têm em nós. Se formos honestos desde sempre, eles saberão que podem sempre confiar em nós e que lhes diremos a verdade, acima de qualquer coisa.
Quando contei à Beatriz que o avô morreu, disse-lhe que os doutores não conseguiram ajudá-lo a melhorar e ele acabou por morrer. Que o Jesus era amigo e não queria que ele sofresse mais e por isso levou-o para o céu, para junto d’Ele. Mas como também era amigo dela, e não a queria ver triste, transformou o avô numa estrelinha para que pudesse vê-la todos os dias, acompanhá-la e protegê-la. Expliquei que isso significava que o avô nunca mais voltava e por isso, não o veríamos mais. Mas ele nos vê sempre, todos os dias, lá do céu.
2. Eles não precisam de demasiada informação, além daquela que é essencial para compreenderem a questão. Devemos explicar, sempre, de forma simples, clara e adequada à idade, fornecendo-lhes apenas o que precisam saber. Se mais, tarde perguntarem, acrescentamos.
Uns dias depois de ter perdido o avô, aos três anos, a Beatriz perguntou: “Mãe, isso quer dizer que tu e o pai também vão morrer?”. Engoli em seco. “Sim, filha. Todos nós vamos morrer um dia.”E ela acrescentou: “E quando morrerem, eu vou ficar aqui sozinha?”Engoli, novamente, em seco. “Não ficarás sozinha. Sabes? Isso será daqui a muitos anos. E tu já serás muito crescida e já terás a tua família, os teus filhos. O pai e a mãe serão velhinhos. Olha para mim, eu tenho-te a ti e ainda tenho os meus pais!”. Ela ficou por ali. E eu também…
3. Não faz mal chorarmos. Não faz mal estarmos tristes.A mim custa-me perceber porque temos de esconder as emoções das crianças. Os pais também ficam zangados, também ficam tristes e também choram. É normal sentirmos saudade e é natural termos vontade de chorar. Digo sempre isso à Beatriz. Quando ela me diz que tem saudades dos avós e que está triste porque sente a falta deles, reforço que também nós sentimos a falta deles e estamos tristes. Assim, ela percebe que não é a única a sentir-se assim. Quanto mais normalizarmos, melhor será para eles! Uma das coisas que nos ajudou no processo foi ajudá-la a identificar e compreender as suas emoções. Neste artigo, falei um pouco sobre como a Beatriz aprendeu a dar um nome ao que sente.
4. Recordar é viver! Uma das coisas que costumo dizer à minha menina, é que sempre que sentir saudades dos avós, podemos ver fotos e/ou vídeos deles. Temos por hábito recordar muito as brincadeiras dos avós e alimentamos as memórias que ela tem deles. Sempre com alegria! Ela própria sorri muito e até dá gargalhadas quando conta histórias dos avós. É um “exercício”que ela já faz sozinha.
De uma forma muito sucinta, e em jeito de conclusão, a maior lição que tirámos deste último ano e meio, e com tanta coisa menos boa que aconteceu – porque além dos dois avós, a Beatriz também lidou com a perda de um “mano” que nunca chegou a conhecer, mas que soube da sua existência na barriga da mãe – é que o fundamental é sermos honestos com os nossos filhos e não fazermos da morte “um bicho papão”! Quanto mais honestos formos, mais maturidade eles ganham e mais confiança têm em nós. Hoje, apesar de sentir que ela ainda sofre com as perdas, sinto-me orgulhosa pelo percurso que fez e o quanto cresceu! A Beatriz encara, hoje, a morte com uma grande naturalidade. Se fica triste e revoltada? Fica. Mas os adultos também!
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