Autonomia e independência infantil

O crescimento de uma criança envolve passar do estado de dependência para o estado de independência e autonomia. É comum existirem dificuldades nessa transição. Cabe a nós incentivarmos essa trajetória, para que esta conquiste a independência de comer sozinha, de lavar os dentes, de tomar banho, de ir dormir à casa de um amigo, de fazer os trabalhos de casa, de explorar os seus interesses, de ajudar nas tarefas domésticas, etc.

Como é que podemos fazer isso?
Podemos, por exemplo, recorrer a livros infantis que mostrem personagens a percorrer esse percurso. As crianças gostam de imitar os exemplos com que contactam. E a leitura é uma boa forma de as ajudar a desenvolver a sua maturidade emocional.

Se não incentivarmos essa transição, a criança, que posteriormente se transforma num adulto, permanece num estado de dependência em relação a um ou os dois progenitores. Este tipo de dependência está muito presente na nossa sociedade, daí ser tão importante promovermos uma educação diferente.

Como é que podemos ganhar consciência, se nós próprios, ainda estamos a viver uma relação de dependência com os nossos pais?
Podemos observar se nas situações desafiantes ainda ecoa na nossa mente a frase “ajuda-me mãe” ou “ajuda-me pai”. Se nesses momentos sentimos necessidade de ligar-lhes para superar a situação. Ou se nos sentimos incapazes de avançar para eventos novos e desconhecidos se não formos acompanhados por eles. É reconfortante podermos contar com a ajuda dos nossos pais nos momentos de dificuldade. Mas é importante analisarmos se a ajuda que estamos a pedir, não representa de facto uma dependência. Se na realidade, os desafios não estão a ativar memórias de dor da nossa criança interior. Memórias de que somos insuficientes e incapazes de lidar com os obstáculos da vida.

Será que estamos a ter comportamentos de adultos ou continuamos a ter comportamentos infantis?

Nós somos como uma matrioska: temos dentro de nós diferentes versões do nosso Eu e todas merecem ser amadas. A nossa criança interior corresponde ao nosso Eu infantil, que tanto pode acender a mais profunda alegria, como a mais profunda dor. Se estiver a ativar a dor é importante olharmos para ela. Podemos procurar fotografias da nossa infância para nos ajudarem a estabelecer uma conexão, e, começarmos a desenvolver uma comunicação com ela: falemos, como falaríamos com qualquer criança, que se cruzasse no nosso caminho e que nos pedisse ajuda.

Nessas circunstâncias saberíamos que somos adultos e que podemos ajudar qualquer criança ferida. Saberíamos o que dizer. Em relação à nossa criança interior temos que fazer exatamente o mesmo. Temos que ocupar o nosso papel de adultos e cuidar dela. Através da construção dessa relação de amor, ela poderá nos mostrar onde moram as nossas feridas.

Hoje já temos experiência para saber o que é real e o que é ilusão. Podemos perdoar. Podemos enviar para esses locais toda a nossa luz e amor. E seguirmos mais leves.  

Se não curarmos essa dependência, vamos mantê-la com os nossos progenitores, e vamos projetá-la na relação com os outros. Nas relações com os amigos, namorados, cônjuges, e inclusive nas relações com os filhos.

Que possamos curar o que ainda não foi curado.
Que possamos quebrar os padrões de dependência.
Que estimulemos as crianças a serem autónomas, criativas e empoderadas.

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