Será que vivemos sempre deprimidos?
Será um estado de alma constante? Uma sentença de vida?
Sempre fui alegre. Sempre ri, e fiz rir, de forma tão natural como respiro: sem muito fazer para isso acontecer. Foi assim que me viram durante anos. Foi assim que toda a vida mascarei dores e medos.
Achava que não mostrar era sinónimo de não sentir. Que errada estava! É impossível ao ser humano esconder a dor para sempre. Mais cedo ou mais tarde ela encontra maneira de se manifestar. Seja de que forma for.
No dia que percebi que não conseguia mais pôr a máscara e sorrir para o mundo, tive o meu primeiro esgotamento. Deixei de conseguir dormir, tornou-se impossível desligar a máquina que chamam cérebro. Os pensamentos vinham à velocidade da luz, e a falta de descanso deu origem ao boom que me obrigou a parar.
O choro ocupou o lugar da gargalhada. O sorriso deu lugar à tristeza. A mente obrigou o corpo a parar. Nunca mais voltei a ser a mesma.
Na altura não percebia o que se passava comigo, o porquê de me sentir assim. Os médicos diziam que estava com depressão. A sociedade não me via deprimida: apontava o dedo como se fosse uma escolha minha estar assim.
Hoje vejo a depressão como uma árvore, com várias raízes a saírem dela. Com o passar do tempo as raízes saltam da terra e ficam visíveis. Assim como com a depressão se torna impossível ignorar os sinais que nos vai dando de que algo não está bem.
Aprendi a regar a minha árvore, a permitir as raízes se mostrarem. Não as cortar apenas para não serem visíveis, mas sim ajudá-las a crescer fortes.
Depende sempre de nós quebrar o estigma associado à depressão. Costumam dizer que, como não se vê, não existe. Não de todo! Existe e pode levar a caminhos escuros e difíceis. Nem sempre há força, e nem sempre quem nos ama tem as ferramentas para nos ajudar.
Mas com toda a certeza que procurar ajuda vai ser sempre a solução. Assim como quando estamos doentes procuramos um médico para tratar aquela doença específica. Não pode ser diferente quando a nossa mente nos diz que que não está bem.
Não sei salvar o mundo, mas ainda sei dar amor ao próximo, sorrir e fazer sorrir.
E esse é o meu medicamento nesta fase. O caminho foi longo e penoso. Aprender a conhecer-me e a aceitar-me tem sido o meu maior desafio de vida.
Não sou feliz todos os dias, todas as horas. Mas sinto a felicidade muitas vezes. Talvez por permitir que a tristeza também venha quando assim tem de ser. Sem a conter, sem a mascarar. Cada sentimento tem o seu espaço e tempo certo. Não podemos nunca alimentar apenas um deles.
Se fossemos sempre felizes não seriamos gratos e nada teria valor.
Se fossemos sempre tristes nada faria sentido e o mundo era escuro demais.
Havendo equilíbrio haverá saúde mental.
É regar a árvore todos os dias, com a quantidade certa de água, e o mundo será florido