As feridas emocionais surgem na nossa infância e depois são transportadas para a nossa vida adulta. Na maioria das situações ocorrem na nossa juventude, visto não possuirmos maturidade ou desenvolvimento pessoal e emocional capaz de entender o mundo.
Algumas feridas acompanham-nos, estando sempre “abertas” e atribuindo culpa aos nossos comportamentos incompreendidos, aos nossos medos, às nossas inseguranças, emoções e bloqueios que incapacitam a nossa vivência enquanto seres emocionais.
Numa metáfora: as cicatrizes são aquelas feridas que fecharam. Mas será que fecharam mesmo? Estarão saradas as memórias ou emoções deixadas naquela cicatriz? A cicatriz funciona como uma âncora – eu até posso não me lembrar do acontecimento, mas a marca está lá. A única diferença é que pode não criar mal-estar, e até pode estar mesmo resolvido o assunto que a envolve. Assim sendo: as feridas causam dor, as cicatrizes não. Eu posso afirmar que cicatrizei uma ferida quando esta já não me causa dor.
Exemplos de feridas emocionais incluem:
- Abandono: incapacidade de proteção por parte dos pais, tutores ou educadores na infância. As marcas emocionais refletem-se através do medo e insegurança de serem abandonados em adultos.
- Rejeição: falta de compreensão por parte dos pais. Um dos fatores mais importantes no desenvolvimento da criança é a sua segurança emocional, que depende do afeto e do carinho. As marcas emocionais refletem-se na desconfiança exacerbada e afastamento emocional pelos seus pares.
- Injustiça: falta de sentimento de igualdade ou justiça em criança perante os outros: colegas, irmãos, etc. As marcas emocionais refletem-se na insegurança e incapacidade própria de solucionar ou resolver os seus problemas. Também podem tornar-se inseguros na conquista dos seus objetivos.
- Traição: sentimentos de desonestidade, desconfiança e insegurança no cumprimento de promessas feitas pelos pais ou os seus pares. As marcas emocionais podem refletir, numa fase adulta: a sua própria má conduta (no que diz respeito a ser leal e fiel aos outros) para se auto-proteger de outras possíveis traições e/ou tornar-se muito inseguro ao confiar nos outros.
- Humilhação: desprezo, culpa e constrangimento familiar e/ou social. Dependendo do grau de humilhação vivido pode gerar trauma ou fobia a determinadas situações. As marcas emocionais podem espelhar a fobia recalcada e fraqueza na tomada de decisões, falta de autoconfiança e autoestima.
Identifiquei feridas emocionais. Como posso cuidar da minha Criança Interior?
Após reconhecer uma ou mais feridas, é preciso entender se a ferida já cicatrizou. Todos nós vivenciamos uma ou mais feridas e não têm mal nenhum, o importante é reconhecer que elas existem ou existiram e que podem ser cuidadas e cicatrizadas.
Cuidar implica ser afetivo e compreensivo. Com quem?
Aqui o leitor poderá comunicar em diálogo interno, o exercício seguinte sobre auto-compaixão. Esta é a orientação: “O amor é o melhor cicatrizante e a cura não poderia vir de um melhor médico: eu próprio.
Passos para cicatrizar feridas emocionais:
- Entender, compreender e aceitar a minha dor: para a minha criança interior se sentir acolhida, tenho de a receber num lugar seguro e não a devo fazer-se sentir julgada. O autojulgamento impede a cicatrização. A relação e importância das minhas emoções dependem daquilo que eu faço com elas: Eu escolho, eu decido, eu mudo.
“Eu sou livre de culpa, mereço apenas amor e cuidado.”
- Perguntar: o que preciso? Em criança eu não recebi tudo o que precisava. Então hoje, em adulto posso dar aquilo que realmente necessito de receber. Esta é uma prática ou pacto de compromisso entre a criança interior e o ser adulto.
“Estarei sempre atento às minhas necessidades”.
- Praticar auto-gentileza: é muito comum eu exigir demasiado de mim, talvez porque em criança fui obrigada a isso. Mas hoje posso escolher ser complacente e gentil comigo mesmo. Basta entender a urgência e prioridade nas coisas que tenho para realizar. Será importante fazer isto já? Posso adiar?
“Eu mereço o meu respeito”.
- Cuidar de mim em primeiro lugar: não é egoísmo, mas é priorizar as minhas necessidades, e não necessito de aprovação externa para o fazer.
“Eu coloco-me em primeiro plano”.
- Celebrar conquistas: quantas vezes não recebi congratulações e reconhecimento dos outros? E minhas? Saber celebrar as minhas conquistas é a minha recompensa, e é muito satisfatório quando me mimo com as coisas que gosto.
“Eu celebro e saboreio cada vitória”.
- Disciplinar-me, auto-motivar as minhas metas e atingir objetivos: muitas vezes obtenho frustração quando não alcanço o que quero. É importante determinar quais são as minhas metas e estabelecer um plano de execução e ação para esta finalidade.
“A minha criança interior confia em mim para se sentir orientada e segura”.
Se experimentarem uma vez este exercício, acreditem que valerá a pena.
Este é apenas o início da tua transformação e autodescoberta.