Por Sílvia Dias
A intimidade no casal está muito associada à intimidade física, à intimidade sexual, contudo vai muito para além disso.
Acredito que a melhor forma de entendermos as palavras é procurarmos a sua raiz, pois é nas raízes que se encontra a origem. A palavra “intimidade” deriva do latim “intimus”, que significa “mais profundo.” Esta profundidade vai muito mais além do que a proximidade física num casal. Então, podemos dizer que quando falamos em intimidade no casal, podemos falar em “relação profunda no casal”.
E O QUE É UMA RELAÇÃO PROFUNDA NO CASAL?
É uma relação que requer tempo para ser construída e partilhada e que vai desde a intimidade emocional, à intimidade física e sexual.
Na verdade, qualquer relação “dá trabalho” e ninguém nos ensina a desenvolver esse tipo de relação profunda (ou essa intimidade) connosco mesmos, nem na relação com o outro. Ninguém nos ensina a ser uma boa companhia para nós próprios, quanto mais uma boa/bom companheira(o)/parceira(o) de vida na relação com outra pessoa.
Uma relação intima ou profunda é uma relação de autodescoberta e descoberta do outro ao mesmo tempo. É uma caminhada individual e ao mesmo tempo em casal. Porque na verdade ser íntimo comigo mesmo e ser íntimo com o outro são duas faces da mesma moeda.
Ser íntimo ou ter uma relação profunda comigo e com o outro significa conhecer-me bem e conhecer bem o outro, conhecer bem as minhas necessidades e conhecer bem as necessidades do outro, conhecer bem os meus sentimentos e conhecer bem os sentimentos do outro. É sentir-me e estar aberta com e para o outro, mesmo com os meus medos e a minha vergonha. É estar conectada com o outro sem segredos. É aceitar-me e aceitar o outro. É expressar o que sinto e dar espaço ao outro para expressar o que sente. É permitir-me olhar o outro e reconhecer-me nele. É permitir-me ser vista pelo outro. É “desnudar-me” emocionalmente para o outro e mostrar-lhe tudo o que sou, com todos os aspectos que amo em mim e com todos os aspectos que eu não gosto e detesto em mim e não mostro a ninguém. É entregar-me total e profundamente sem “rede segurança”. É pegar na minha alma colocá-la nas mãos do outro, sem saber o que o outro vai fazer com ela. É confiar. É entrar num espaço de vulnerabilidade, um espaço onde muitas vezes vem ao de cima os medos de falhar, de não ser suficiente (boa), de não ser aprovada, de ser abandonada. Ser íntimo é ter coragem para lidar com esses medos e toda a nossa vulnerabilidade, e isso por vezes é muito desafiante.
Uma relação em que não se partilha vulnerabilidade, não há intimidade e está condenada ao fracasso. Quanto mais abraçarmos os nossos medos, as nossas vergonhas, as nossas imperfeições, as nossas sombras, as nossas vulnerabilidades, mais crescemos individualmente e em casal.
Quanto maiores são os níveis de intimidade num casal, maior é o nível de qualidade da relação.
As relações marcadas pela intimidade são relações em que ambos no casal mostram a sua vulnerabilidade, confiando que quem ama vai aceitar-nos com tudo o que nós somos, de bom e de menos bom, e que quer ficar ao nosso lado.
Para entrarmos nesse espaço de intimidade e vulnerabilidade são necessários que alguns ingredientes estejam presentes na relação: a Segurança (“Quanto mais segura me sinto, mais profundo posso ir contigo”); a Confiança (a confiança constrói-se a partir da transparência, da integridade e do amor, “Quanto mais eu confio (em mim, em ti e na Vida), mais profundo posso ir contigo”); a Honestidade (comigo e com o outro); o Compromisso (que requer um amor autêntico e uma maturidade emocional); a Consciência (de mim e do outro, assumindo a responsabilidade, sem culpas e sem julgamento); a Conexão (comigo e com o outro); a Comunicação (o mais descritiva possível e na primeira pessoa do singular) e a Empatia (calçar os sapatos do outro).
NA PRÁTICA, O QUE PODEMOS FAZER PARA DESENVOLVERMOS CADA VEZ MAIS A INTIMIDADE NO CASAL?
Viver a intimidade como uma prática sagrada no casal, tornando a relação com o outro num espaço sagrado em que estamos profundamente comprometidos.
COMO?
- Tornando o tempo em casal como uma prioridade, no meio de tanta tarefa e das cheklist enormes do dia-a-dia;
- Planear momentos de intimidade no casal, não só através da relação sexual;
- Estar presente para o outro, numa atitude mindful, sem telemóveis ou distracções hi-tech;
- Partilhar acontecimentos do seu dia;
- Realizar actividades juntos (cozinhar juntos, ir ao cinema, praticar um desporto);
- Dar abraços (de longa duração);
- Ter momento de ternura, através do toque, do afecto do contacto de “pele com pele”;
- Fazer uma massagem;
- Olhar-se olhos nos olhos durante alguns minutos, como se fosse a primeira vez (através de uma mente de principiante);
- Agradecer ao outro;
- Elogiar o outro (“Hoje gostei muito que…”)
- Dar a mão na fila do cinema ou do supermercado (ou não importa o lugar);
- Fazer amor;
- Escutar o outro sem interromper e dar soluções e reconhecer as capacidades do outro (elas só querem ser ouvidas, e eles só querem ser reconhecidos);
- E a mais importante, aceita o outro como ele é, em vez de o tentares mudar tendo em conta a tua medida.
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