“Mas isto sou eu, que nada sei sobre a vida…”
Então, esta é a minha citação preferida que, dizem, é o remate a coisas que digo bastante acertadas. Assim, esta é a minha forma de humorizar (que a vida é mais fácil se for levada assim). Mas principalmente de retirar-me de uma posição que não gosto de ocupar, a de quem pensa que o que diz é “a” verdade, que deve influenciar decisões (e depois carrega o peso da responsabilidade de não existir uma verdade, uma solução).
Assim, a (minha) verdade é que eu aprendi muito com tudo o que já vivi. Certamente que é uma sabedoria que não adveio de ter vivido muito tempo, porque eu (só) tenho 30 anos. Mas que foi cravada à força pelo background em que cresci, pelas escolhas que fiz, por aquelas que fizeram por mim e pela vida, que simplesmente acontece. Este meu percurso fica para outras núpcias.
Assim, o que quero dizer agora, aqui, é que precisamos urgentemente de aprender a relativizar. Assim, eu existo entre cerca de outros 7800 milhões de seres humanos, uma espécie que representa cerca de 0.01% da vida no planeta Terra. Planeta esse que faz parte de um sistema solar, constituído por mais sete planetas e não sei quantos mais corpos celestes.
Então, acompanhem-me no exercício de imaginar a magnitude disto. Sairmos do nosso corpo, abandonarmos o nosso ego, e viajarmos neste zoom out. Assim, esse sistema, por sua vez, faz parte da Via Láctea, com uma dimensão de 100 000 anos-luz. E ainda falta todo o restante Universo, o observável, que, acreditam os cientistas, deverá ter uns 93 mil milhões de anos-luz.
Quão pequenos somos nesta big picture?
No calendário cósmico, em que o Big Bang se dá no primeiro dia de Janeiro, nós, humanos, aparecemos a 31 de Dezembro, o último dia do calendário, já quase nas horas finais!
Quão insignificantes somos nesta big picture?
Não estou com isto a dizer que a nossa vida não tem grande significado, que devemos deixar o tempo passar plácidamente, sem nos permitirmos a grandes prazeres (e a grandes sofrimentos). O que quero dizer é que existe tanto mais do que eu e eu não sou o centro desse tanto mais. O mundo já existia antes de nós, irá continuar durante muito, muito tempo, após a nossa morte e não será a nossa singular existência a mudar isso.
O mundo não vai acabar se desistirmos do trabalho de que não gostamos; o mundo não vai terminar juntamente com a nossa relação que deixou de ser amorosa; não é o fim do mundo se os nossos filhos decidem não querer ir para a faculdade.
Eu hoje posso escrever para vocês em vez de procurar o trabalho de que preciso por ter tido necessidade de parar. E não faz mal. Hoje posso parar e fazer o que gosto de fazer, sem me sentir culpada por deixar em stand by tudo o que preciso de fazer. E não há problema nisso.
Muitos de nós estão presos no gerúndio: vão existindo, vão sendo, vão vivendo “como dá”. É imperativo calarmos este ruído criado pelo conceito de “viver” socialmente adquirido e encontrarmos em nós os silêncios que nos permitam, de facto, existir. É nessas pausas que devemos fazer o exercício de relativizar. Por um lado, a autoconsciência faz-nos respirar fundo e absorver o mundo que olhamos mas não vemos. A sua beleza atinge-nos, a lucidez e a leveza instalam-se e acreditamo-nos capazes de tudo o que pretendermos. Por outro lado, a consciência do outro normaliza-nos. Não somos assim tão diferentes. Todos travamos lutas, todos temos sucessos para festejar e fracassos para superar; mas continuamos a acreditar estar sozinhos. Sozinhos… Neste Planeta… Neste Sistema… Nesta Galáxia… Neste Universo… Porquê? Eu não sei nada sobre a vida, mas já refleti sobre a resposta a essa pergunta e irei partilhá-la com vocês.
A importância de relativizar – por Nádia Filipa Patrício
Belo texto! 👏👏 Venham mais destes!
Obrigada 🙏❤️